Um enorme risco de surtos de Dengue após as enchentes de outono de 2024 no sul do Brasil
DOI:
https://doi.org/10.33448/rsd-v13i10.46880Palavras-chave:
Arbovírus, Vírus da Dengue, Inundações, Mudanças climáticas.Resumo
A imprensa internacional noticiou recentemente inundações no sul do Brasil, especificamente no estado do Rio Grande do Sul (RS), durante o mês de maio de 2024. Essas inundações causaram perdas econômicas significativas, afetando os setores da agricultura, indústria e comércio, e deslocando milhares de pessoas que perderam suas casas. Um total de 540.188 famílias foram deslocadas, já que 471 das 497 cidades do estado foram afetadas pelas tempestades - o equivalente a 94,77% do total. Além disso, as inundações também proporcionam novos criadouros de mosquitos, o que aumenta, em consequência, os surtos de vírus da Dengue. Este arbovírus causa uma das doenças transmitidas por artrópodes mais preocupantes em todo o mundo. Este trabalho apresenta uma análise da situação da Dengue no estado do Rio Grande do Sul, e faz uma relação dos casos dessa doença após as inundações na cidade de Porto Alegre, combinando dados oficiais, informações meteorológicas e conhecimentos científicos sobre o tema. Em 2023 foram notificadas 1.649.144 infecções por Dengue, com 1.179 mortes. Comparativamente, em 2024, os números chegaram a 6.148.161 com 4.207 mortes até a 25ª semana, ou seja, até o final de junho. Nesse contexto, o RS apresenta taxa de letalidade de casos graves de 12,66%, a segunda maior do país. Assim, é crucial preparar os sistemas de saúde para o rastreio e acompanhamento adequados de potenciais futuros pacientes resultantes das cheias. Campanhas de prevenção e esforços para combater a propagação do Ae. aegypti precisam urgentemente ser mobilizadas através de vários canais de comunicação por parte do governo, alcançando as famílias, com prioridade para aquelas localizadas em áreas de alto risco, especialmente as regiões recentemente inundadas.
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